O centroavante parte do meio campo, recebe a bola do companheiro em boa
posição, dribla três adversários e invade a área. O goleiro é seu último
obstáculo até o gol, que pode ser o que vai decidir o vencedor da partida. O
atacante chuta e..., não importa a conclusão da jogada: a esta altura, o
torcedor apaixonado já está de pé, aos berros, roendo as unhas, exasperado! No
organismo dele, o lance provoca excitação semelhante. A glândula suprarrenal
libera uma descarga de adrenalina, aumentando a frequência cardíaca e a pressão
arterial. Justamente por isso, aumenta o risco de acidentes vasculares –
cerebrais e cardíacos – entre aqueles com alguma predisposição. “As emoções
intensas podem ser de fato perigosas nessas situações”, explica Paola Smanio,
cardiologista do Fleury.
Mas o contrário também é verdadeiro: as emoções podem fazer bem a esse
incrível órgão. Elas são das mais variadas origens e seus efeitos variam de
pessoa a pessoa. O futebol, uma briga no trânsito, o estresse do trabalho, a
alegria de reencontrar um amigo de infância, o nascimento de um filho, a
descoberta de uma nova paixão ou o aniversário de 80 anos da avó, tudo isso,
mexe com o coração. “Quando as emoções são prazerosas e de baixa intensidade,
levam à sensação de bem-estar. Mas, se forem intensas ou mesmo brandas mas angustiantes,
podem ser prejudiciais, devido ao estresse excessivo e à elevação da pressão
arterial”, diz Milton Mizumoto, médico do Esporte e diretor da Corpore Brasil.
Os efeitos das emoções sobre a saúde do coração é assunto que requer
toda a atenção. Afinal, doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte
no Brasil. Essa constatação pode assustar à primeira vista, mas as conquistas
do conhecimento médico oferecem hoje meios bastante seguros para boas práticas.
O melhor caminho para contornar essa realidade é a prevenção. Em primeiro
lugar, deve-se conhecer os principais hábitos e contextos que ameaçam a saúde
do coração, são eles: a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, o tabagismo,
o sedentarismo, a obesidade, o estresse fora de controle, o colesterol alto e a
história de familiares com transtornos cardiovasculares. “É preciso ter hábitos
saudáveis desde a infância”, ensina Paola. “Manter uma dieta balanceada, rica
em frutas e verduras, por exemplo, com menos colesterol, além da realização de
atividade física regular, ajudam muito.”
A atividade física pode se tornar de fato um escudo protetor do coração.
Cada vez que o indivíduo enfrenta uma situação de estresse, o coração dispara,
como um sinal de alerta. Isso não acontece à toa. O objetivo é bombear mais
sangue para os músculos, conferindo ao indivíduo melhores condições para reagir
às situações adversas. Daí, entra em campo o benefício da atividade física
regular. “Se você realiza exercícios rotineiramente, o coração passa a
trabalhar menos para dar conta dessa tarefa. Ele fica bem condicionado, o nível
dos batimentos é menor e ele precisa trabalhar menos”, explica Páblius Staduto
Braga, médico do Esporte do Fleury. “O coração da pessoa sedentária até
consegue reagir à mesma situação, mas terá de fazer um esforço muito maior. E,
depois de superado o estresse, demora mais para retornar ao nível de batimentos
aceitável.”
A atividade física é sempre benéfica ao coração. Contudo, ela deve ser
encarada como uma medicação que deve ser indicada na dose específica para cada
pessoa. Só após avaliação criteriosa feita por um especialista – que analisa o
grau de condicionamento físico do indivíduo –, é possível determinar o tipo, a
intensidade e a regularidade do exercício muscular a ser realizado. “Prescrever
uma atividade física em excesso, por exemplo, é a mesma coisa que prescrever um
medicamento errado ou em dose excessiva: pode piorar o quadro clínico da
pessoa”, defende Milton Mizumoto.
As diferenças entre homens e mulheres
Quando se fala em coração, é preciso levar em conta as diferenças entre
homens e mulheres. Pessoas de ambos os sexos podem até ter os mesmos problemas,
mas reagem a eles de formas distintas. Antes da menopausa, por exemplo, o
organismo feminino produz estrógeno, hormônio que tem ação protetora contra a
doença aterosclerótica, que resulta na obstrução das artérias do organismo,
especialmente do coração e do cérebro. Portanto, se não há outros fatores, como
obesidade ou tendência familiar, ocorre uma proteção natural para o organismo
feminino. Com a chegada da menopausa, porém, diminui muito a produção desse
hormônio e a mulher passa a ter risco equiparado ao do homem. Com a ideia de
que as mulheres são menos suscetíveis aos males do coração, o infarto foi, por
algum tempo, considerado “uma triste exclusividade masculina”. “Até os anos 90,
prevalecia esse conceito”, explica a cardiologista do Fleury Paola Smanio. Mas,
desde então, estudos têm evidenciado que mais e mais mulheres morrem vitimadas
por problemas cardíacos. Antigamente, havia uma tendência delas demorarem a
procurar um cardiologista e não considerarem que sinais como dores no peito e
falta de ar pudessem estar ligados a problemas no coração. “Elas costumavam
achar que os problemas eram apenas fruto de estresse”, conta a médica. Mas a
abordagem frente às particularidades do coração feminino vem mudando. “Quando
os estudos mostraram que o infarto, nas mulheres, tinha uma pior evolução,
porque o diagnóstico era feito tardiamente, passou-se a tentar antecipá-lo”,
explica Paola. “Mas ainda é preciso chamar a atenção das mulheres para isso.”
Por outro lado, os homens, no geral, já possuem maior aderência à
avaliação cardiológica rotineira e, na maioria das vezes, mais precoce. De
qualquer forma, homens e mulheres necessitam de hábitos saudáveis de
alimentação, atividade física regular e, é claro, um acompanhamento médico
regular. Aí, alguns recursos estão disponíveis para auxiliar essa vigilância. O
teste ergométrico é o mais popular e trata se de um exame de esforço físico realizado
em uma esteira, que pode revelar sintomas e sinais relacionados com a
hipertensão arterial, algum grau de obstrução coronariana ou, até mesmo,
irregularidades no ritmo cardíaco. Contudo, para as mulheres, especificamente,
a cintilografia miocárdica, um exame de imagem, pode complementar esse estudo,
pois, às vezes, elas não atingem o nível de esforço necessário para que o teste
ergométrico revele eventuais problemas. Esse exame tem boa indicação, também,
nas situações em que o traçado do eletrocardiograma – fundamental no teste
ergométrico – não possibilita um resultado conclusivo.
Desde que tomados os necessários cuidados, o coração não deve ser,
portanto, desculpa para fugir das emoções – especialmente das boas. “Há um lado
extremamente positivo em se colocar para fora as emoções contidas no dia a
dia”, explica Páblius Staduto Braga. Se isso puder ser feito na companhia de
amigos e familiares, melhor. “Nesse caso, há todo o ritual de nos reunirmos com
as pessoas queridas. Isso é fundamental não só do ponto de vista do coração,
mas, também, sob os aspectos emocional e social. A exemplo dos exercícios, é um
trabalho de fortalecimento cardíaco.”
"A atividade física é uma aliada
da saúde do coração. Mas antes de começar, é preciso que um especialista defina
qual tipo de atividade, intensidade e regularidade da prática ideal para
você"
Publicado em: 20/08/2010 - Site
www.fleury.com.br - Por: Fleury - Edição: 20
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